O final da Idade Média foi marcado por muitas convulsões políticas, sociais e religiosas. Entre as políticas destacou-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a Inglaterra e a França, na qual tornou-se famosa a heroína Joana D’Arc. Houve também muitas revoltas camponesas, o declínio do feudalismo, a expansão das cidades e o surgimento do capitalismo. No aspecto social, havia fomes periódicas e o terrível flagelo da peste bubônica ou peste negra (1348). As guerras, epidemias e outros males produziam morte, devastações e desordem, ou seja, a ruptura da vida social e pessoal.
O sentimento dominante era de insegurança, ansiedade, melancolia e pessimismo. Isso era ilustrado pela “dança da morte”, gravuras que se viam em toda parte com um esqueleto dançante. Na área religiosa, houve a erosão do ideal da cristandade ou “Corpus christianun”, a sociedade coesa sob liderança da Igreja e dos papas. A religiosidade era meritória, com missas pelos mortos, crença no purgatório e invocação dos santos e Maria. Ao mesmo tempo, havia grande ressentimento contra a igreja por causa dos abusos praticados e do desvio dos seus propósitos. Isso é ilustrado pela situação do Papado no final do século XV e início do século XVI.
Os chamados Papas do Renascimento foram os mais estadistas e patronos das artes e da cultura do que pastores do seu rebanho. A instituição papal continuou em declínio com muitas lutas políticas, nepotismo, falta de liderança espiritual, aumento de gastos e novos impostos eclesiásticos. Como Papa, Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja foi um generoso promotor das artes e da carreira dos seus filhos César e Lucrecia; Julio II (1503-1513) foi um papa guerreiro, comandando pessoalmente o seu exército; Leão X (1513-1521) o papa contemporâneo do reformador Martinho Lutero, teria dito quando foi eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”.
Na vida da Europa já se processava um grande movimento que produziria a energia necessária para a revolução religiosa (…). A mente humana fez novas e esplêndidas conquistas em todas as direções. Grandes descobertas geográficas aconteceram de sorte que a forma e o tamanho da terra foram determinados. A descoberta do sistema Solar por Copérnico revolucionou as idéias humanas a respeito do universo.
Grandes empreendimentos foram alcançados nas invenções mecânicas, entre as quais a imprensa (1450). Idéias e os conhecimentos eram espalhados com mais rapidez do que antes. A Reforma não ocorreria enquanto os livros tivessem que ser escritos à mão. As descobertas geográficas provocaram a rápida expansão do comércio e da indústria, bem como despertaram um desejo de empreender atividades colonizadoras. Na esfera política, a nova fase manifestou-se num desenvolvimento da vida nacional e do poder político. Uma das causas desse despertar foi o contato com a cultura e a civilização da Grécia e de Roma, que a Idade Média desconhecia to-do o maravilhoso mundo do pensamento clássico, da literatura e da arte foi descoberto.
Os homens foram despertados para grandes empreendimentos, tanto no campo da arte quanto no da literatura, que caracterizaram a Renascença. É nesse aspecto da Renascença, renascimento da cultura, que encontramos uma preparação direta para a Reforma. A disseminação da lingua grega contribuiu para a leitura do Novo Testamento no Original, onde se via o ideal divino para a Igreja Cristã. Ao compará-lo com o que viam ao redor, muitos tornaram-se reformadores. Esses homens fortaleceram o espírito da Reforma. Eles provocaram interesse pelo estudo da Bíblia, preparando leitores e indagadores das Escrituras para uma forma de religião verdadeira.
A Renascença, por sua influência na elevação da mente humana, habilitou-se a lançar fora as velhas idéias e a ingressar nos novos caminhos, sendo precursora da renovação das idéias religiosas. Sem a Renascença a Reforma não teria acontecido.
Estudos de Alderi de Souza Matos, pastor e historiador presbiteriano e NICHOLS, Robert Hastings; História da Igreja Cristã, 13a edição, Editora Cultura Cristã.