Fazer justiça nunca é tão simples assim

Publicado em: 12 de novembro de 2023

Categorias: Destaques, Estudos de Quinta Feira

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Por Mari Williams

Uma igreja localizada em um bairro muito próspero de uma grande cidade decidiu começar um projeto para ajudar os moradores de um bairro muito mais pobre da mesma cidade. Eles organizaram uma reunião com a igreja para discutir as necessidades da comunidade mais pobre. Eles não conheciam ninguém da comunidade e não chegaram a pensar em perguntar que necessidades as pessoas tinham. Eles decidiram que a doação de alimentos certamente devia ser uma prioridade. A igreja doaria alimentos para a comunidade pobre, para que os pais pudessem alimentar os seus filhos.

Foi formada uma equipe para o projeto. Eles compraram alimentos, que eram colocados em caixas e entregues uma vez por semana em casas da comunidade mais pobre. A equipe ia às casas dos moradores e cumprimentava-os com grandes sorrisos, com uma caixa de alimentos e com garantias de que Deus os amava.

Em geral, os adultos pareciam estar muito gratos, e talvez até um pouco envergonhados, e as crianças ficavam extremamente felizes. Na época do Natal, a igreja decidiu comprar presentes para as crianças. Eles fizeram uma arrecadação especial para poderem abençoar as crianças com presentes caros. A equipe ficou surpresa porque alguns pais ficaram um pouco surpreendidos com este gesto, mas as crianças ficaram extremamente felizes ao receberem os presentes.

O projeto caminhava extremamente bem, ou pelo menos esse parecia ser o caso para a igreja mais abastada.

Na verdade, o projeto estava involuntariamente contribuindo para um profundo sentimento de vergonha e falta de dignidade entre os moradores da comunidade pobre. Muitos dos moradores adultos da comunidade queriam trabalhar, mas tinham dificuldades para conseguir empregos. A autoestima deles já estava baixa. Receber doações, sem nenhum senso de apropriação, escolha ou envolvimento, feria ainda mais a sua dignidade e autoestima. Alguns dos pais haviam trabalhado muito para economizar dinheiro para comprar pequenos presentes para os seus filhos no Natal. Quando viram os presentes caros que foram doados pela igreja, eles perceberam que os presentes que haviam comprado iam parecer pequenos e insignificantes em comparação.

A resposta da igreja foi motivada pela compaixão, mas foi uma reação simplista e precipitada a injustiça. Ela não lidou com as questões que realmente importavam e acabou piorando a situação ainda mais.

Imagine se a igreja tivesse perguntado a comunidade quais eram as suas necessidades, e se havia alguma maneira de ambas trabalharem em parceria para começar a atendê-las. Se houvesse uma necessidade prioritária de alimentos, imagine se a igreja tivesse trabalhado com a comunidade na formação de uma cooperativa de alimentos pertencente e administrada pelos seus usuários, chegando a capacitar as pessoas e a alcançar a autossuficiência. Imagine se a igreja tivesse se dedicado a tarefa muito mais complexa, mas dignificante, de ouvir a comunidade. Imagine se a igreja tivesse ajudado os moradores a conseguir empregos e se ela tivesse criado oportunidades para os moradores proverem para as suas famílias.

Se fazer justiça parece ser algo simples, podemos não estar fazendo justiça alguma.

Estudo bíblico retirado da Sessão Um do livro Viva com Justiça, de Tearfund e Desafio Miqueias. Reproduzido com permissão.

O estudo com questionamentos e discussão em grupo está aqui