O mundo que recebeu Jesus, durante o período em que Ele viveu na Terra, era caracterizado por uma complexa interseção de culturas, religiões e sistemas políticos. O contexto histórico em que Jesus apareceu é geralmente referido como o Primeiro Século na Terra de Israel, uma região situada no cruzamento do Oriente Médio, onde várias influências convergiam.
1. Dominação Romana: A Terra de Israel, desde o exílio babilônico, estava sob o domínio de impérios estrangeiros, embora por um curto período de tempo, experimentou a independência com os reis-sacerdotes da dinastia dos Macabeus. Jesus todavia nasce no período cujo domínio de Israel estava sob a lei do Império Romano. O governo romano exercia controle político e administrativo sobre a região, impondo tributos e mantendo uma presença militar significativa. O império dominava vastas porções de terras ao redor do mar mediterrâneo e de certa forma, apesar de estar sob o domínio romano, Judeus estavam espalhados por muitas partes do império.
Roma permitia liberdade religiosa e também que os povos dominados mantivessem seu próprio Rei local, o que seria uma espécie de prefeito, nos dias atuais. Neste sentido, temos a figura dos Herodes, que eram reis-vassalos de Roma. E temos a figura do Governador, como o fora Pilatos, que respondia por toda a província romana nas terras de Israel. Herodes vivia em Jerusalém. O Governador Romano em Cesareia Marítima, que fora erguida por Herodes o Grande em homenagem a César Augusto.
Apesar da dominação, vemos que Roma como império facilitou muito a propagação do evangelho pelo mundo, pois os romanos criaram estradas, portos, e uma grande infraestrutura pelo império que facilitou as viagens missionárias como as de Paulo.
2. Costumes religiosos pagãos: Dada a expansão da cultura grega, nos séculos que antecederam a vinda de Cristo e a incorporação destes elementos pelos romanos, os povos pagãos mantiveram suas práticas religiosas, inclusive em cidades dos judeus. Havia uma diversidade de grupos religiosos dentro das autoridades israelitas, o que gerou o surgimento de certos partidos como os fariseus, saduceus, essênios, além de influências helenísticas.
Os Fariseus talvez sejam o melhor exemplo de tentar impor a religião de forma sistemática para combater as influências pagãs. Os fariseus eram conhecidos por sua ênfase na observância rigorosa da Lei (Torá) e das tradições orais. Acreditavam na ressurreição dos mortos e na existência de anjos e espíritos. Enfatizavam a pureza ritual e eram ativos na sinagoga local. Valorizavam a interpretação e aplicação flexíveis da Lei, incorporando tradições adicionais para orientar a vida religiosa cotidiana.
3. Expectativas Messiânicas: Os judeus da época carregavam expectativas messiânicas profundas, esperando a vinda de um Messias que os libertaria do domínio estrangeiro e restauraria o reino de Israel. Fruto desta expectativa, foi o surgimento do grupo dos Zelotes. Os zelotes foram conhecidos por resistir vigorosamente à ocupação romana na Judéia.
Eles buscavam a libertação de Israel, provocando revoltas contra os romanos, com rebeliões e atentados. Tinham uma visão messiânica nacionalista, acreditavam na vinda de um líder que restauraria a independência de Israel. Eles acreditavam que o Messias seria uma figura militar. Um dos discípulos de Jesus, Simão Zelote, era parte deste grupo, antes de se unir aos Discípulos.
4. Sincretismo Religioso: Havia um certo sincretismo religioso, com a influência de crenças e práticas gregas misturadas às tradições judaicas. A presença de diferentes grupos e ideias contribuía para uma dinâmica complexa. A exemplo disso, temos os Saduceus.
Os saduceus, frequentemente associados às classes sacerdotais e aristocráticas, diferentemente dos fariseus, rejeitavam as tradições orais e aceitavam apenas a autoridade do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia), rejeitando os demais livros do Antigo Testamento. Não acreditavam na ressurreição ou em seres espirituais, nos quais podem ser notados a influência do pensamento racionalista grego. Os saduceus tinham influência significativa no Templo em Jerusalém e estavam envolvidos em atividades sacerdotais e administrativas.
Já em contra-ponto aos Saduceus, temos os Essênios.
Os essênios rejeitavam as práticas do templo de Jerusalém, pois o consideravam como impuro devido as influências estrangeiras. Eram um grupo ascético que buscava uma vida dedicada à pureza espiritual e à comunhão com Deus. Eles viveram em comunidades isoladas, muitas vezes no deserto. Valorizavam textos religiosos adicionais, como os Manuscritos do Mar Morto. Praticavam ritos de purificação e observavam rigorosamente as leis dietéticas. É bem provável que João Batista, antes de começar seu ministério e batismo, ele tenha vivido em uma destas comunidades de essênios.
5. Desigualdades Sociais: Como em muitas sociedades antigas, havia desigualdades sociais evidentes, com uma hierarquia clara entre classes e um sistema de patronagem. Apesar de Roma ser um império riquíssimo, os súditos deste império viviam em extrema pobreza. Por isso entendemos um pouco sobre a multiplicação de pães e peixes que Jesus fizera, pois de fato muitos viviam em escassez de comida. Jesus se compadecia das multidões, pois experimentara as privações pelas quais o povo passava.
Nesse cenário, Jesus emergiu como uma figura única, desafiando uma religião falida, ensinando sobre amor, perdão e justiça, e atraindo seguidores de diversas origens. Seu ministério e mensagens encontraram eco em meio à busca espiritual e às profecias messiânicas da época, dividindo eras e que transcendeu as fronteiras de Israel e alcançou o mundo.