Primeiros Movimentos Dissidentes

Publicado em: 27 de agosto de 2017

Categorias: Estudos de Quinta Feira

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Durante o grande Cisma, conforme estudamos na semana passada, cada Papa considerou-se o único e legítimo e excomungou o rival. Assim, houve a necessidade de um Concílio para resolver a Crise. O concílio de Pisa (1409) elegeu um novo Papa, mas os outros dois recusaram-se a serem depostos, resultando em três Papas ao mesmo tempo. João XXIII, o segundo Papa pisano, convocou o concílio de Constanza (1414 – 1417), que depôs os três papas, elegeu Martinho V como único Papa, decretou a supremacia dos Concílios sobre o Papa e condenou os pré-reformadores John Wycliff e John Hus e Jerônimo de Praga.

O Concílio de Basiléia (1431 – 1449) reafirmou a superioridade dos Concílios. Finalmente o Concílio de Ferrara-Florença (1438 – 1445) tentou a união com a Igreja Ortodoxa (Frustrada pela conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453) e reafirmou a Supremacia Papal. Essa tentativa fracassada de tornar a Igreja mais democrática e governa-la através de concílios ficou conhecida como Conciliarismo.

MOVIMENTOS DISSIDENTES

Outro aspecto desse período de efervescência foi o surgimento de alguns movimentos dissidentes no sul da França que despertaram forte oposição da Igreja Romana. Um deles foi o dos Cátaros (em grego, = Puros) ou albigenses (da cidade de Albi), surgidos no século XI. Caracterizavam-se por um sincretismo Cristão, gnóstico e maniqueísta, com um dualismo radical (Espiritual x Material) e extremo ascetismo. Foram condenados pelo 4º Concílio Lateranense em 1215 e mais tarde aniquilados por uma cruzada. Para combater esses e outros hereges, s Inquisição foi oficializada em 1233.

Outro movimento foi liderado por Pedro Valdo ou Valdes (1205), de Lion, cujos seguidores ficaram conhecidos como “Homens pobres de Lion”. Tinham um estilo de vida comunitário, ensinavam as escrituras no vernáculo, enfatizando o Sermão do Monte. Incentivavam a pregação de leigos e de mulheres, negavam o purgatório. Condenados pelo Concílio de Verona em 1184, foram muito perseguidos, refugiando-se em vales remotos e quase inacessíveis dos alpes italianos. Mais tarde abraçaram a Reforma Protestante, sendo assim uma das poucas Igrejas Protestantes anteriores à Reforma do Século XVI.

PRIMEIROS MOVIMENTOS DE REFORMA

John Wycliff


John Wycliff

Nos séculos XIV e XV surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra certos ensinos e práticas da Igreja Medieval. Um deles foi encabeçado por John Wycliff (1325 – 1384), um sacerdote professor da universidade de Oxford, na Inglaterra. Wycliff atacou as irregularidades do Clero, as Superstições (Relíquias, Peregrinações, Veneração dos Santos), bem como a doutrina da Transubstanciação, do Purgatório, as Indulgências, o celibato clerical e as pretensões papais. Seus seguidores, conhecidos como os lolardos, tinham a Bíblia como norma de Fé que todos devem ler e interpretar.

John Huss

John Huss

John Huss (1372 – 1415), sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Bohemia, foi influenciado pelos escritos de John Wycliff, então precursor do movimento reformador na Inglaterra. Ele definia a  Igreja por uma vida semelhante a de Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da Igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o Papa. Insistia na autoridade suprema das Escrituras. Huss foi condenado a fogueira pelo concílio de Constanza. Seus seguidores ficaram conhecidos como irmãos boêmios (1457) e foram muito perseguidos.

Foram os precursores dos irmãos morávios, que estudaremos posteriormente, outro grupo protestante cujas raízes são anteriores a Reforma do séc outro grupo protestante cujas raízes são anteriores a Reforma ulo XVI. Outro indivíduo incluído entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola (1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege. Além dos movimentos que romperam com a Igreja, houve outros que permaneceram nela por se concentrarem na vida devocional, sem críticas aos dogmas católicos.

Erasmo de Roterdã

Erasmo de Roterdã

Um deles foi o misticismo, bastante forte na Inglaterra, Holanda e especialmente na Alemanha (Reno). Os principais místicos dessa época foram Meister Eckhart (1327), Tauler (1361) e os Amigos de Deus, Henrique Suso (1366) e mais tarde o celebre teólogo e líder eclesiástico Nicolau de Cusa (1401 – 1464). O misticismo dava ênfase à união com Deus, ao amor, à humanidade e à caridade, e produziu uma belíssima literatura devocional.Outro importante movimento foi a Devoção Moderna, que se manteve forte durante todo o século XV. Suas ênfases recaíam sobre a espiritualidade, a leitura da Bíblia, a meditação e a oração. Também valorizava a educação, criando ótimas escolas. Foi um movimento leigo, para ambos os sexos e também exerceu grande influência sobre os reformadores protestantes. Os participantes eram conhecidos como Irmãos da Vida Comum.

Jacques Lefevre d'Etaples

Jacques Lefevre d’Etaples

O interesse pelas obras da Antiguidade levou ao Estudo da Bíblia nas linguas originais pelos chamados humanistas bíblicos. Os principais deles foram o italiano Lorenzo Vallla (1457), estudioso do Novo Testamento; o inglês John Colet (1519), estudioso das epístolas paulinas; o alemão Johannes Reuchlin (1522), notável estudioso do Hebraico. O francês Lefêvre DÉtaples (1536), tradutor do Novo Testamento; e o Holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536), “o príncipe dos humanistas”, que publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego com uma tradução latina, talvez a obra mais importante publicada no século XVI, que serviu de de base para as traduções de Lutero,de Lutero, Tyndale e Lefrêve e muito influenciou os reformadores protestantes.

Esse retorno às Escrituras muito contribuiu para a reforma do século XVI, que em sua essência buscou o retorno a pureza do Evangelho e da Igreja.

Estudo de Alderi de Souza Matos, Brasil Presbiteriano, Ano 56 nº 747 – Fevereiro de 2017.

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